A Corrida
Chegou o domingo, 10 de agosto de 1980, dia dos pais, estréia do Dodgão e da equipe RPC (Raça, Peito e Coragem) com os integrantes: Roberto, Nicolau, Lauri, Milton, Paulo e Pedro (eu).
Lá estávamos nós preparadíssimos, carro revisado e abastecido, equipe a postos.
Veio a chamada para a volta de apresentação e, eis que me deparo com um amigo de Rudge Ramos, ninguém menos que Tigueis. Era a estréia dele também. A história era parecida com a nossa, juntaram-se alguns amigos, carro Karmann Ghia do Eduardo Bo, motor do Tigueis, vaquinha para a inscrição, combustível e muita vontade de correr. Que coincidência, encontrar um amigo que frequentava a mesma turma, as mesmas rodas, na corrida de estréia, muito legal.
Como o Tigueis nao treinou no sabado, teve que largar no final do grid. Fizemos a volta de apresentação e nos colocamos no alinhamento do grid.
Foi ai que apareceu o Marquinhos Cayres e me deu um pedaço de chocolate. Adrenalina lá no alto + chocolate, anciedade total. Subiram e desceram as placas de contagem de tempo para o início e finalmente, Largada. O motor girava, loucura, indescritível. Quarenta carros chegando a curva um , ninguém tira o pé do acelerador, todos querem passar. Mantive minha posição de largada, o Tigueis veio lá do fundo e colou no Dodge, se predeu um pouco na curva dois e ficou embolado com dois opalas na primeira volta.
Comecei a segunda volta da mesma forma que a primeira, em 13º e com muita vontade. Lá pelo meio do retão apareceu um Fiat 147, um fiat 147 no retão de interlagos colado no Dodgão. Andou a volta toda colado no Dodge e quando estávamos no retão na 3ª volta, o 147 saiu do vácuo do Dodge, passou e foi embora. Que humilhação. Mas, fazer o que, não teve jeito.
Continuei minha tocada, mas não tive sossego por muito tempo, pois eis que surje em meu retrovisor um Karmann Ghia branco sendo acelerado pelo Tigueis. Baixinho danado acelerava sem dó, não dava pra ele passar. No miolo, parte de baixa velocidade, eu deixava o Dodge "esparramar"não dando espaço e na parte alta, o Dodge acelerava mais. Fomos brigando volta a volta, o Tigueis tentando passar de qualquer jeito e eu e o Dodge resistindo a qualquer custo.
Quando faltavam três voltas, descemos o mergulho colados e quando chegamos a junção, o Dodge esgorregou demais e abriu um espaço de meio carro entre asfalto e grama. O Tigueis não teve dúvida, enfiou o carro com duas rodas na grama. Não deu, se descontrolou, foi com o carro inteiro para a grama. Naquele trecho o terreno era muito irregular e o Karmann Ghia, socado no chão, saiu pulando feito cabrito, com o Tigueis pendurado no volante e os olhos saltando para fora do capacete pelo susto que estava passando.
Pode ser difícil de acreditar na descrição de cenaque acabei de fazer, mas é uma coisa que assisti em poucos segundos, com o Dodge atravessado na pista, com visão privilegiada e que nunca vou esquecer. O Tigueis ficou para trás e eu continuei minha tocada. Ele ainda voltou para a pista, mas o motor quebrou na volta seguinte na reta oposta, devido a mangueira de óleo que se soltou do radiador no "passeio" pela grama.
Na última volta começou uma garoa fina e ao entrar um pouco mais abusado na curva 4, o Dodge perdeu a trazeira, rodou e bati o para-lamas dianteiro direito no guard-rail, mas mesmo assim consegui terminar a corrida. Até dei uma carona para o Tigueis na volta para o Box. O 147 que "atropelou" o Dodge ficou pelo caminho. Largamos em 13º e chegamos em 10º, nada mal para uma estréia.
5 comentários:
Bela postagem, ótimo relato, ótimas fotos de um circuito que já não existe mais....
Obrigado, realmente, um circuito, uma categoria e um automobilísmo que infelizmente não existe mais.
Carlos Eduardo Szépkúthy
E o Dodge ? Que fim levou ?
O Dodge fez mais uma corrida e depois voltou ao original e foi vendido
Cara, show de bola, parabéns, procuro historias sobre dodge nas pistas e a sua é animal, estou montando um pra correr na classicos de competição, vou a sua oficina para conversarmos ao vivo, grande abraço!!
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